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Letrux como Mulher Girafa




Para quem chega saudando, para quem abre a caixa toráxica, a quem pede, tudo é dado. Eu não sei bem onde chegamos, mas aqui me parece um belo lugar para ficar de pé e comer o mundo, para destrinchar cada pedaço. O prazer na voz de Letrux, surge pra mim como aquela que parece saber estar exatamente onde deveria, uma fera que não precisa de asas. É tanto prazer que chega a dar fome.

Era bom mesmo que eu fosse um bicho dançante, pra dançar livre este disco. Entre cobras, pássaros e panteras, meu bicho dançante dançou em todas as músicas. Mas se eu dissesse que este é um disco para dançar, seria pouco, pouquíssimo.

No privilégio de ouvi-lo antes da maioria do mundo, eu quis dançar devagarinho, não quis ficar soberba. Como escreveu Clarice, “fingia que não o tinha, só pra depois ter o susto de o ter”. E fingia que era uma pessoa comum, dançando um disco comum. Dancei no banho, dancei lavando louça, dancei enquanto trabalhava, dancei enquanto escrevia, dancei na janela olhando as pessoas na rua.

Mesmo nas letras mais duras, eu dancei. Mesmo nas infelicidades sinceras e tristes melodias, eu dancei. Letrux e Lulu prometem um abraço, mas eu não posso dizer o mesmo. Eu não te prometo nem mesmo um “bom dia” e foi assim que repeti Zebra dezenas de vezes. Por meses e meses, eu também vasculhei nossas memórias. Sozinha.

Por vezes, enquanto dançava, me vinha o desejo de enviar áudios de cinco minutos aconselhando meus amigos e dei um monte de conselho a mim mesma: — Olha aqui, costurar é para pessoas fortes, pelo amor de Exu, vai lá e ajeita a tua vida! Somos todos nós cavalos cansados de correr.

Do que padece o humano contemporâneo? A gente acha que é tartaruga, é visto como crocodilo, mas na verdade é frágil como uma borboleta: tanto trabalho pra evoluir em espiritualidade e beleza, e aí morrer em três dias. Ou trabalhar duro feito uma abelha operária, para ver tudo ser comido pelo leão. O mel não é para todos.


Enquanto a gente oscila entre o dia de ser ovo e o dia de ser galinha, é um privilégio ter a Mulher Girafa pra nos lembrar da obviedade humana. Ainda bem que tem você.


Ana Paula Lisboa - Junho de 2023


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